segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Décima primeira e décima segunda semana.

Dizem os físicos do século XX que o tempo é menos linear do que se pensa. Se dilata e se comprime. Pouco sei sobre essas teorias, mas o fato é que, agora, em pleno dia 27 de outubro de 2008, sinto que o tempo entrou num trem veloz, desgovernado, e eu o persigo, numa motocicleta, ao lado, pelos pedregulhos de uma estrada mal definida.
Hoje, 6 da manhã, levantei pra ver se conseguia escrever algo sobre as semanas passadas. Senão, nada feito. O fato é que muito aconteceu, e ao mesmo tempo "nada mudou". Fui príncipe encantado, fui vilão, no pátio, o grande teatro das crianças, fui várias coisas, houveram perseguições e abraços, tudo brincadeira. Mas o suor no corpo no final do dia comprova o gasto de energia. Poderia escrever muitas cosias. Existem muitas cenas tocantes, que ficam na garganta e aos poucos vão sumindo da memória, no cansaço dos dias, pois são tantas... e tão perdidas!
Falando mais objetivamente, tentei abordar, numa e na outra semana, pontos menos experimentais, ou seja, tentei me reter ao desenvolvimento de competências musicais mais convencionais, como cantar, e identificar e seguir um padrão rítmico.
Ambas apresentaram um rendimento muito aquém do que eu esperava. As crianças ficam entre sussurrar e gritar, e a idéia de afinação fica totalmente abstrata. Ritmicamente, embora eu perceba que em várias situações cotidianas elas conseguem todas juntas, seguir um padrão rítmico, um pulso; tive muita dificuldade de fazer qualquer coisa do gênero em aula. Escravos de jó, por exemplo, não consegui jogar com nenhum estágio. Deve haver algo a fazer, com relação a isso. Tenho quase certeza que preciso apenas encontrar a abordagem certa.
Passei na prova de ingresso do Mestrado, e estou trabalhando com uma peça de teatro que exige ao menos 4 horas por dia de ensaio, pois fui chamado há 2 semanas da estréia. Numa outra escola já fiz a minha parte, com a "mostra cultural", que foi exaustiva. E agora, vem a Mostra Cultural da Ação. São tantas coisas, são dez pra sete, e eu não tomei café ainda. Vou lá.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Décima Semana

Com os aquários quebrados, a décima semana transcorreu com outra atividade. Em turmas de 10 crianças, íamos à sala de música. Sem dizer nada, eu colocava uma música, "O pássaro de Fogo", num som bem legal que eu instalei na sala. É uma peça orquestral de Stravinsky, com inúmeros movimentos, e dura uns 30 minutos, feita para um ballet dirigido por Diaghilev, no qual uma lenda russa (do pássaro de fogo), é abordada. A música então sugere inúmeras "cenas". Também, sem dar instruções, eu começava a me movimentar lentamente no quadrado circunscrito pelo tapete, e a estabelecer uma conexão com a música e o meu próprio corpo. Algumas crianças, nesse contexto inicial, pegaram revistas da prateleira, vasculharam as estantes do fundo da sala, ou se distraíram brincado. Outras no entanto, percebendo o comporamento um tanto alheio e estranho do "professor de música", tentaram um contato, por meio dos mesmos movimentos. Com o passar do tempo, toda turma foi se envolvendo, de maneira mais ou menos caótica. Essa "liberdade total" sempre faz eclodir um caos total que é sempre surpreendente, e faz qualquer educador se sentir irresponsável por permitir tamanha algazarra, mas é de dentro disso que surgiram, nesses 30 minutos, pelo menos alguns de mergulho total. Essa expressão livre foi uma idéia que me veio das aulas do prof. Iramar, do instituto Dalcroze (Suiça), que deu um curso aqui em São Paulo. A conexão do corpo, com a sensação que a música transmite se transforma num laboratório para o imaginário, para a expressão pessoal.
Em contraposição a essa atividade aparentemente simples, eu tentei fazer um jogo com os copos, no estilo "Escravos de jó". Não consegui que eles acompanhassem se quer o pulso de uma canção. Tentei fazer a atividade antes de colocar a música, mas eles já chegam agitados. Em outra escola já tentei abordar com crianças tambem essa prática de acompanhar o pulso de uma música, ou marchar no ritmo da música. Em ambas as circnstâncis fiquei um pouco frustrado por não obter êxito. Eu tenho certeza que as crianças são capazes (pelo menos grande parte), de seguir uma pulsação. De que adiantam abordagens alternativas e modernas, se certas coisas básicas e até mesmo ancestrais não são incorporadas? Talvez seja bom voltar à moda antiga às vezes.
Recebemos um grande presente da Ação Comunitária. Um teclado Roland. Não poderia vir em momento mais oportuno, pois eu tive de devolver o teclado que eu estava usando (que era emprestado). E vai ser uma ótima para voltar às notas do re mi fa sol la si do e tantas combinações possíveis entre elas, sem falar das canções! Muito obrigado Ação!

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Nona Semana

Talvez a primeira semana na qual consegui realmente sentir que as crianças estavam entrando mais em questões musicais propriamente ditas. Por que o aquário faz som? Por que isso acontece? (falei sobre o fato de que a música a gente faz com sons, e que toda matéria pode produzir um som, contanto que vibre, assim como o vidro do aquário vibra com o contato dos nossos dedos. E é muito bonito ver a vibração do aquário espelhada na água, ilustrando padrões da onda sonora). O padrão melódico, a diferença das notas, a reiteração de idéias que geram sentido musical, etc. Tudo isso de certa forma entrou como conteúdo na prática das aulas.
As atividades com os aquários provam que o instrumento musical é extremamente útil para o trabalho com crianças de qualquer idade. Elas gostam de manipular, experimentar. De toda forma, esse contato íntimo com a criação de melodias, o sistema de "pergunta-resposta" ou de "tema-variação" ou de "imitação e desenvolvimento", tudo isso só foi possível porque levava 3 crianças de cada vez na sala de música. Passávamos mais ou menos 15 minutos (dependendo do interesse da criança, ficava-se mais ou menos tempo) e depois eu voltava pra sala e trazia mais três, ou quatro crianças. Essa intimidade, silêncio e paz, conseguia gerar nas crianças que vinham pra sala de música uma atenção muito diferenciada daquela que existe numa sala de aula. De todo modo, você demora mais pra atender a todas, e não dá pra fazer dessa opção mais individualizada um modelo de aulas. É mais uma exceção.
Se não fossem de vidro não teriam quebrado. Fiz um "cemitério" onde eu colocava com as crianças os aquários "mortos em acidente de trabalho". E foram 8. Na útlima aula eu tinha que me virar com apenas 3 aquários, e um tratou de quebrar na volta pra casa. Não é viável mas valeu muito à pena. O instrumento de sucata, ou "alternativo", gera muito interesse, mas é interessante poder contar com um instrumento de verdade, para gerar noções referênciais, na comparação destes sons determinados (do piano, da flauta, do violão, do xilofone), com os sons não determinados, ou não temperados, de muitos dos instrumentos de sucata (ou não ocidentais). Para melhor compreender a diversidade é interessante fazer notar as diferenças.