terça-feira, 11 de novembro de 2008

Décima terceira e décima quarta semanas

Existe uma peça muito famosa chamada "Um Bonde Chamado Desejo", se eu tivesse que escrever um drama ou comédia a essa altura, certamente se chamaria "Um Bonde chamado Mostra Cultural". Pois é... eu acabo de chegar da Itália, onde aprendi os passos princiapais da Trantella, que será apresentada pela nossa companhia de dança da creche São Norberto, que conta com mais de 170 bailarinos profissionais entre 0 e 6 anos. Dos quais fizemos uma rigorosa seleção de 20. Todos os ingressos já estão vendidos e estamos evitando jornalistas, para não estressar as crianças.



Muitas dificuldades mencionadas nas duas semanas anteriores (como noção de pulso), de certa forma, acabaram sendo abordadas naturalmente no desafio de se criar uma coreografia com as crianças. Amanhã o Marcio deve vir ver o ensaio geral, o que, de acordo com ele, "deve ser o que nós iremos apresentar no palco". Se a garotada apresentar no dia 25 o que vão fazer amanhã (dia 12) pro Marcio, acho que vão pensar que é uma companhia de Arte Moderna, ou então algum tipo de esporte novo. Há muito que melhorar até o dia 25. Mas vamos conseguir, apesar dos protestos carinhosos das outras crianças, pois estou me dedicando mais ao 3º estágio, que deve apresentar no dia 25. Ensaiamos duas vezes cada dia, tentando fazer as crianças memorizarem a coreografia, e sentir o ritmo, enfim, fugir de uma performance mecânica.



Muito pode se criticar esse tipo de "dever de apresentação", e a própria Ação Comunitária, se mostra bastante tolerante com relação à participação ou não das crianças em apresentações de palco. O fato é que já marcamos. De todo modo, medir "eficiência pedagógica" é tão subjetivo como medir afeto. Existem muitas noções musicais, corporais, cognitivas (visio-motricidade, audio-motricidade, lateralidade), envolvidas na realização de uma sequencia de movimentos coordenados com uma música. O processo pode realmente ser estimulante, se conduzido de forma (muito) dinâmica. Conduzir uma hora de ensaio exaure as crianças e exaure o educador. Quinze minutos e já estou suado. Trinta minutos e a minha cor já está um pouco diferente. Uma hora depois, eu estou reavaliando as minhas motivações. Mas sempre vale a pena, e tem sido estimulante e divertido. É claro que a gente se preocupa (principalmente os educadores, incluindo eu), de acabar dando o maior vexame no palco, de não ficar bonito, ou algo do tipo. As crianças, no entanto, não me parecem estar dando tanta importância a isso, vivem o presente intensivo, seja no cansaço, seja na vontade de enfrentar o desafios. Elas se divertem! Na hora de pesar o que realmente importa na vida, é sempre bom levar em conta a visão daqueles que nos propomos a ensinar. Dizem que felicidade não se ensina. Se ensina sim. Mas adivinha quem são os professores?